quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ah, Paris!

Passei toda a manhã seguinte e grande parte da tarde tentando falar com Gabriel. Mas ele não atendeu nenhuma das minhas ligações. Eu decidi não forçar a barra. Prefiro acreditar que agiu por impulso, ciúmes, ou seja lá o que for. Não foram aqueles valores que tentei ensinar a ele.


Desisti. Mandei um torpedo avisando a hora do meu vôo. Ainda tinha esperanças que ele viesse se despedir. Eu estava longe de ser um homem perfeito, mas me dediquei o máximo aos meus filhos, só que agora eles estavam longe de mim, correndo atrás de seus sonhos. Gabe não apareceu no aeroporto.


Aretha sabia de meus horários, mas eu não tinha idéia dos dela, nem tão pouco onde ela estava. As coordenadas chegavam por torpedo e eu estava achando tudo muito, muito excitante.


Guiado dessa forma, peguei um taxi para o Hotel onde ela reservou nosso quarto. Larguei as malas, tomei um banho e peguei outro taxi. Desta vez um que ela havia mandado pra mim. Eu não sabia meu destino.


Cheguei a ficar meio tenso, quando notei uma fita preta no assento ao meu lado e a motorista solicitou que eu vendasse meus olhos a pedido de Aretha.
– Êtes vous sûr? – Perguntei.
– Oui, monsieur. – Ela respondeu.


Obedeci e era conduzido às cegas por Paris. Não era uma sensação exatamente agradável. Mas com certeza, instigante. Não posso precisar quanto tempo, pois a venda me tirou toda a noção. Mas, a certa altura, o carro parou.


A taxista me disse que eu podia descer e que o serviço já estava pago, mas que eu não tirasse a venda até o momento certo. Ela completou dizendo que eu iria saber.


Não esperei muito... O vento soprou a meu favor e minha memória olfativa foi rápida. Pude sentir o perfume de Aretha antes que ela estivesse perto o suficiente pra me tocar. 


– Não tire! – Ela ordenou ao ver que levei a mão aos olhos. – Primeiro tem que adivinhar onde estamos.
– Hmmmm... – Murmurei enquanto pensava, e sentia sua aproximação. – Notre-Dame? – Arrisquei.


Eu estava com sorte.
– Ah, não vale, J! – Aretha reclamou enquanto se pendurava em meu pescoço e arrancava ela mesma a venda.
– Desculpe, Anjo... Era para eu errar? Pode me vendar de novo, eu chuto outra coisa desta vez.


Aretha me beijou. Era maravilhoso ter de novo os lábios dela nos meus, me fazia esquecer os problemas e me trazia candura. Infelizmente, tudo ligado a ela sempre vinha atrelado a um “mas”...


– Você é completamente absurda! Como faz uma loucura destas? Eu te pedi tanto...
– Jack... A única coisa que pode me afastar de você agora é a morte... Mas não pretendo morrer por estes dias... – Sorriu.


– Ainda mais em Paris... – Continuou.
– Ainda mais em Paris... – Repeti.

E mais uma vez nos beijamos.


– Você já deve conhecer, mas... Vamos entrar? – Convidou.
– Vamos, “mademoiselle”! – Brinquei.


Conversávamos enquanto caminhávamos pelos cantos da Catedral. Aretha sempre foi de uma curiosidade atroz, principalmente em relação a minha vida, e meus amores. Sorte minha, não foram muitos.
– Então... Os Hell’s já tocaram em Paris?


– Posso dar mais esse crédito a Banda... Conheci Paris por causa dela. Já tocamos no Hard Rock Café e no Folies Bergères. – Eu estive em Paris uma outra vez, com a Ana. Mas era desnecessário comentar.
– E como foi estar em Paris com minha mãe?


Que pergunta era aquela?
– Anjo, não houve “Paris com sua mãe”. Nós estávamos em oito! A banda completa, mais você e seu irmão que já estavam na barriga dela.
– Caramba, J! Você se lembra...


Eu parei.
– Aretha, escute... Eu não sei o conteúdo da conversa que você teve com sua mãe, e sinceramente só me interessa se você estiver aqui para dar um fim nisso tudo. Pare de dar indiretas e pergunte o que quer saber!


Eu olhei nos fundos dos seus olhos enquanto aguardava uma resposta. Esperei que ela despejasse toda mágoa pertencente à Tara pra cima de mim, mas ela não fez. E senti toda sua sinceridade quando ela me respondeu:
– Ah, não, J! Desculpe! Eu... Eu não quis dizer isso! Eu sou uma idiota, eu te magoei! Eu só queria saber, era só... Me Desculpe, J! Me Desculpe! Eu juro que não pergunto nada disso nunca mais...


Eu fui um grosso. Como pude? Aretha falava sem parar, como de costume, se atropelando.
– Está bem, Anjo... Está tudo bem. – Tentei acalmá-la.
– Não está... Eu estraguei tudo com minha curiosidade estúpida. Era pra ser uma semana perfeita. Eu planejei tudo com tanto cuidado! E estraguei...


– Hey, está tudo perfeito, Anjo, não faz idéia como me deixou feliz com esta surpresa.
– As coisas não foram muito legais em Lyon, não é? – Pelo tom de sua voz, percebi que esse era um dos supostos “medos tolos” a que ela se referiu na manhã da minha viagem.


– Realmente não, Aretha, mas vai ficar tudo bem, eu tenho certeza... Gabriel vai entender, eu sei que vai... Só precisa maturar a idéia. Seus pais são minha maior preocupação.
– Pode deixar que eu dou conta desta parte. Confie em mim.


Voltamos a caminhar.
– Eu confio em você, Anjo. Só não acho justo você enfrentar nada sozinha.
– Eu nunca estou sozinha, J. Eu nasci gêmea. Meus pais estão magoados, mas vão ter que encarar a realidade. É só uma questão de tempo.

Eu desejei que fosse verdade. 


Eu esperava ansioso por Aretha que estava possivelmente há mais de duas horas no banheiro.
– Anjo! – Chamei da cama. – Está tudo bem aí?
– Já to indo! – Ela respondeu por trás da porta fechada.


Alguns minutos a mais e ela saiu de lá. Desfilando um lingerie vermelho. Eu ri.


Aretha ficou uma fera com a minha reação.
– Qual é a graça? Estamos na França e eu não posso usar renda?

Eu já estava em pé ao lado dela.
– Está linda! Você é sempre linda. Só não combina com você... Você fica mais bonita de pijama... Ou sem nada.


– Você sabe como quebrar o clima, J! – Ela torceu o nariz naquela careta divertida.
– Eu recupero ele pra você, anjo. Vem cá...


Eu a beijei. Toda vez que fazia isso parecia diferente de alguma forma. Seus lábios e sua língua sempre me surpreendiam. Quem recuperou o clima foi ela afinal.


Mas eu ainda estava disposto a provocá-la. Eu adoro quando ela se irrita.
– Sabe, Aretha... Eu acabei de me lembrar... Você tinha prometido não aprontar na minha ausência, e quebrou sua promessa. Devia ter se confessado na catedral.
Mas ela resolveu não me dar trela.
– Ainda não cometi todos os pecados que pretendo. Eu me confesso depois.


Era apenas a segunda vez que ela estava em meus braços tão completamente entregue, e parecia que eu conhecia cada milímetro do seu corpo com precisão.
E antes de se deixar levar pelo sono, sussurrou no meu ouvido.
– Boa noite, J. Eu te amo.
– Também te amo, Anjo. Durma bem.


Passear em Paris com Aretha era romântico e divertido. Não acho que sejam duas coisas fáceis de combinar, mas ela não apresentava muita dificuldade nisso, visto que toda tentativa frustrada de sedução daquela garota tão inexperiente me trazia momentos de pura diversão.


Nem por isso ela ficava menos atraente pra mim. A forma como ela se dava, a forma como ela me sentia na hora do amor era completamente envolvente. E acabava me seduzindo assim sem intenção.


Quando não estávamos enroscados um no outro no quarto, estávamos passeando por todos os pontos turísticos de Paris. Eu já havia estado aqui outras vezes ela também, mas tudo parecia novidade. Dois turistas encantados com a Cidade Luz.


O Arco do Triunfo na extremidade da Champs-Élysées, o Louvre, a fonte da Igreja Saint Sulpice, a Torre Eiffel. Paisagens antigas ilustrando um momento novo.


Paramos em um café. Devia ter uns três ou quatro dias que estávamos ali. Não sei direito, perdi a conta.
– Anjo, precisamos voltar pra casa.
– Sua viagem não ia ser de duas semanas? Não completou a primeira ainda...


– Ia. De duas semanas. Com o Gabe. Em Lyon.
– Ah desculpe, Jack. Vou me recolher a minha insignificância...


– Não é nada disso, Anjo. Para de drama! O que você disse para seus pais?
– Como sabe que eu não falei a verdade? – Eu a olhei enviesado. Ela já conhecia minha expressão. – Ta, ta bom! Eu disse que ia com Thales e sua turma de história dessa vez.


– Você está perdendo aula?! – Exclamei em tom de bronca.
– Não! Estamos de férias... É uma viagem cultural, mas fora do currículo. E eu já tinha passado há muito tempo... Você não queria que eu dissesse que vinha pra Paris com você, queria?


– Não gosto que minta, não é certo! – E então acabei verbalizando algo que não devia, ainda tenha saído em tom de voz muito baixo – Mas o que é que eu estava pensando?!
– Está arrependido? – Ela perguntou com o semblante triste e deixando a mesa.


– Deus, não! Aretha! – Chamei, mas ela ia longe.
Eu não podia correr atrás dela sem pagar a conta. Catei desesperadamente dinheiro no bolso, arremessando notas e moedas em cima da bancada.


Acredito que devo ter deixado o triplo do valor do que consumimos. Corri atrás dela. Mas não a encontrei.


Peguei o celular e liguei. Tocou a primeira vez até parar sozinho e entrar a gravação da caixa postal. Liguei a segunda.


Ela atendeu.
– Que é?! – A voz estava grave e aborrecida.
– Aretha, desculpe... Não foi o que quis dizer... Onde você está?


– Não sei, eu corri. – Ela fungou. – Não levantei a cabeça ainda.
– Então levante, olhe e me diga, Anjo.


– Não me trate como uma retardada, J! Não vou levantar minha cabeça... Borrei minha maquiagem...

Eu ri.


– Não ria! Eu estou escutando sua risada, J! Não ria!

Eu parei.
– Ok, desculpe. Pode voltar para o café?


– Não... Eu to indo pro hotel. Precisamos arrumar as malas não é?

E desligou o telefone.


Antes que eu pudesse botar o meu aparelho de volta no bolso, ele tocou. Era Júlia.
– Oi, minha filha! Tudo bem?!
– Pai, o que você ta fazendo em Paris?


Baseado na pergunta dela, eu tinha duas: como ela sabia que eu estava em Paris e porque estava me indagando daquele jeito. Júlia nunca me cobrava, e raramente me questionava, se o assunto não dizia respeito a ela.
– Passeando. – Respondi. Não era mentira.
– Eu pensei que você estivesse em Lyon com o Gabe!


– Eu estava... Tá tudo bem?
– Tá, pai... Mas eu preferia que você viesse pra casa.


– O que aconteceu, Júlia? – Eu fiquei preocupado.
– Só prefiro falar com você aqui... Quando você volta?


– Na verdade, estava pensando em ir... Hoje ou amanhã... Júlia, você está me assustando. – Admito que por alguns segundos pensei na hipótese de ser avô. O ar me faltou.
– Está tudo bem, pai... Apenas tente comprar um jornal.


Fiquei intrigado com aquela ligação. Porque diabos eu deveria comprar o jornal? Será que algo tão grande aconteceu que repercutiu aqui? Mas então porque ela não me falou logo?
Comprei o Le Monde a caminho do hotel, mas deixei para olhar no quarto.


Pela porta de vidro, vi que Aretha estava no banho. Bati para avisar que tinha chegado.
– Anjo?!
Ela nem olhou. Com certeza ela ainda estava irritada comigo.


Sentei e comecei a folhear o jornal. Eu apenas “arranho” o francês, mas se tivesse algo importante, julguei que veria em alguma manchete chamativa, talvez uma foto. Virei o jornal de ponta-cabeça. Não havia nada lá que justificasse a preocupação de Júlia.


Eu comecei a pensar mil coisas. Inclusive que Júlia pudesse ter pirado. Liguei pra ela de volta.
– Não tem nada no jornal aqui, minha filha...
– Ótimo! Menos mal! Já pegou as passagens? Que horas é seu vôo?


– Mas não faz nem meia hora que nos falamos.
– Ta! Quando souber, me avisa!


Quando eu desligava o telefone, Aretha saiu do banho. Percebendo minha cara de aflição perguntou:
– O que houve?
– Ah! Agora você está falando comigo? – Como ela conseguia me tirar do foco!


– Jack?! – Ela esperava uma resposta.
– A Júlia... Ligou. Com um papo esquisito... Pedindo pr’eu voltar pra casa, mas comprar um jornal... Uma coisa sem sentido...


– Bem, pelo menos agora você conseguiu um motivo.
– Anjo, não fique assim. Eu poderia viver com você aqui pra sempre... Mas quero fazer tudo certo desta vez. Por favor...


Eu a abracei.
– Eu já entendi... – Ela confessou.
– Vou trocar os bilhetes, tá bom?


– O bilhete. – Ela me corrigiu, frisando o “O”.
– Vai fazer malcriação agora?


– Não. Mas não terminei minha viagem, não tenho culpa que a sua acabou.
– Ainda parece malcriação pra mim.


– Não é, J. Eu tenho algumas amigas pra visitar... Não é sempre que se atravessa o oceano. – Aretha desviou o olhar, o que me fez achar ela que pudesse estar me faltando com a verdade.

Preferi acreditar que fosse apenas uma impressão errada.


Contra minha vontade, ela se soltou e foi até a cômoda.
– Além do mais... Meu irmão só chega de viagem em três ou quatro dias. Ainda vou ligar pra ele pra confirmar, mas não posso chegar antes dele. Se for pra me esconder lá, me escondo aqui. A vista é mais bonita.
– Você é muito topetuda, mesmo!


Eu me aproximei e a abracei novamente.
– Talvez seja esse o seu charme... Essa sua irritação, esse seu humor destemperado. Essa sua impulsividade atrevida.
– Isso não é charme. É defeito. – Porque ela tinha que franzir esse nariz? Eu me sentia um perfeito pateta quando ela fazia isso.


– Pode ser... Questão de ponto de vista. Gosto desta Aretha.
– Gosta mesmo? – Aretha baixou finalmente a guarda.


– O que acha que estou fazendo aqui? Porque me vê tão preocupado em seguir as regras? Eu era o tio que servia sorvete de almoço, lembra?
– É... – Ela sorriu com a lembrança. – As coisas mudam...



3 comentários:

  1. J'aime Paris, cette ville vit dans mes rêves!
    Sei exatamente que "amigas" a Aretha vai ver... rsrsrsrsrsrsrsrs
    J realmente precisava de uma pessoa como ela em sua vida!

    AMO!
    bjosmil *.*

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  2. Eu não concordo muito com isso... aushauhsuahushuahs [ta, só estou implicando]

    Own, agora é voltar pra casa e encarar as feras.... Jack, ta na hr de encarar o sogrão e a imprensa... kkkkkkkkk

    amo muuuuuuuito ainda mais tendo tando J S2


    Bjooos

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  3. Precisava mesmo, meninas! É o número dele! hauhsuahuahs, que o deixa apaixonado e histérico, mas... FELIZ!

    Obrigada!

    bjks!

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