quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Valliun

– Maldita hora que fui dizer pra ela o seu vôo! Porque você deixa ela falar assim com você, pai?! Até parece que você aliciou a menina ou algo assim! Ela não tem o direito de te tratar desse jeito! – Júlia parecia revoltada.
– De que jeito?


– Desse! Invadindo e esbravejando como se você fosse o único culpado pelo que ta acontecendo! Era Aretha quem vinha aqui! Era ela quem ligava, quem procurava e quem corria atrás de você! Eu sei! Eu vi!
– Júlia, entenda, eu permiti! Só dependia de mim, ter cortado isso ou não.


– Pai, dependia dela também... Aretha não mediu! Você também não! Vamos dividir, ta legal? Não dá pra você ficar sozinho de mártir!
– Amor, ela só tem 18 anos.


– Ah! Nesse caso então, serve de desculpa? Ô, pai! Pelo que conheço da Aretha, ela mesma deve estar assumindo a parcela dela... Então pare de colocar a garota numa redoma! Ela aguenta a pancada.

Quando Júlia falou, eu enxerguei. Sabia que Aretha aguentaria, mas simplesmente não queria que ela levasse nenhuma.


Desnecessário dizer que passei o resto do meu tempo inútil tentando falar com ela. Em vão. Chamei Claudinete e pedi que ela comprasse passagens pro primeiro vôo de volta a Paris.
– Mas o senhor acabou de chegar!
– Bem, Claudinete, eu sei quando eu cheguei. Apesar de você não acreditar, eu não perdi minhas faculdades mentais ainda.


Ela saiu ofendida e eu já estava arrependido, mas não estava com tempo nem paciência. Quando voltou disse que tinha conseguido para a noite seguinte. E eu não sabia o que fazer pra me distrair até lá. Tomei 2 comprimidos de Valium e apaguei.


Então, eu estava ouvindo vozes, mas precisei me esforçar para entender as palavras... Não conseguia assimilar por que. Não sabia onde eu estava e nem se eu estava sonhando. Tentava me lembrar a última coisa que tinha feito consciente.


– Porque ele não acorda?
– Eu disse! Seu pai ta ficando maluco, mas ninguém me escuta nessa casa!


A discussão continuava, mas o som era abafado e não fazia mais sentido.
– Pai! “Paieeê”! Levanta, Pai!

Meu corpo balançou. Mas eu mesmo não tinha forças nem para abrir os olhos.


Aos poucos as vozes e as palavras ditas foram ficando mais definidas.
– Droga! Ele tomou remédio pra dormir! Sabe-se lá quanto! Pai, “acoooooooorda”! – Essa era da minha filha.


– Agora é só esperar mesmo, dona Júlia... Ele deve acordar só lá pra noite... – Reconheci a voz de Claudinete. Porque elas duas estavam no meu quarto?
– Pelo menos você cancelou a passagem?


– Cancelei.

O quê?! Não! Tentei me mover. Não consegui. Não sei se foi por conta do esforço, ou por que ainda estava sob efeito do medicamento, mas acabei apagando novamente.


Quando finalmente acordei o quarto estava escuro. Devia ter anoitecido. Mesmo que tivesse sido apenas sonho, provavelmente eu tinha perdido o avião. Fitei o teto. Estava com muita raiva de mim mesmo.


Mas eu tinha que levantar. E tinha que dar um jeito de voltar para Paris. Mal botei meus dois pés no chão e a porta do quarto se abriu. Júlia entrou como um raio, seguida de Hélio e Reginaldo.
– Acordou, donzelo? – Perguntou com ironia.
– Porque esta invasão no meu quarto?


– Bem... Eu trouxe os dois para colocarem você embaixo do chuveiro.
– Não vai ser necessário.

Júlia fez sinal para eles saírem.


Depois sentou-se na cama ao meu lado.
– Hey, pai... Não fica assim... Ela ligou um pouco mais cedo.
– Como assim “ela ligou”?! Ninguém me chamou? – Eu me exaltei.


– Durante mais de meia hora, pai! Porque foi tomar remédio pra dormir?
Minha curiosidade era maior e mais urgente:
– Onde é que ela está? O que aconteceu? Ta tudo bem? Cadê meu celular? Eu quero falar com ela.


– Está tudo bem pai... A Tara conseguiu falar com ela... Parece que era só a bateria mesmo... Enfim... Ela tomou um esporro básico da mãe. Mas pelo menos a Tara disse a ela que você estava preocupado e talz...


– Você falou com ela? Ela está bem?
– Ela está ótima, pai! Está em Paris, melhor que a gente... Longe do braço do Mark... Brincadeira! – Ela emendou imediatamente ao ver minha careta. – Só quis fazer uma piada...


– Não estou num momento para piadas, Júlia.
– É pai, não está mesmo! – Disse aborrecida ao se levantar. – Você está é muito chato!


Júlia saiu batendo o pé.
– Vou trazer seu telefone. Porque não toma um banho?

Júlia não me chateou. Mas a verdade é que cada um aqui tinha tomado seu rumo, e estava tomando conta de sua própria vida. Eu também quis. Deu no que deu.



3 comentários:

  1. J apaixonado parece tão bobão às vezes! Ben que o Forte diz que sim apaixonado fica abobalhado! rsrsrsrsrsrsrsrs

    AMO!
    bjosmil! *.*

    ResponderExcluir
  2. Figuraça esse J! Acho que os homens realmente apaixonados ficam bobos de uma maneira geral, hehehe!

    Obrigada, amore!

    ..: Bjks :..

    ResponderExcluir
  3. Figuraça esse J! Acho que os homens realmente apaixonados ficam bobos de uma maneira geral, hehehe!

    Obrigada, amore!

    ..: Bjks :..

    ResponderExcluir